segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Confederação Brasileira de Canoagem sob investigação


Uma confederação esportiva às voltas com dívidas tributárias. Outra entidade, do mesmo esporte e no mesmo prédio, que contratou quase R$ 30 milhões em patrocínios do BNDES nos últimos quatro anos. E três centros de treinamento financiados pela União que se transformaram em apenas um, praticamente não utilizado pelo time de canoa, que tem mais chances olímpicas.
Esse é o enredo recente da canoagem brasileira, que pode faturar uma medalha inédita na Rio-2016 com Isaquias Queiroz, eleito o melhor atleta de 2015 pelo Comitê Olímpico do Brasil.

As dívidas da Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa) foram contraídas há mais de uma década, quando o bingo, atividade hoje proibida, servia como estímulo ao esporte, por meio da Lei 9615. A norma destinava 7% da receita do jogo às entidades. Sediada em Curitiba e comandada desde sua fundação, em 1989, por João Tomasini, a CBCa explorava o jogo, por exemplo, em São Paulo, a cuja prefeitura passou a dever depois que a lei proibiu bingos.
Por força das dívidas, que a impediam de receber verba federal, a CBCa saiu de cena: desde 2011, não assinou convênios com o Ministério do Esporte, nem firmou qualquer patrocínio público. No entanto, a canoagem receberia mais dinheiro depois disso.
Tudo passou a ser feito por meio de uma outra entidade: a Academia Brasileira de Canoagem (Abracan), cujo presidente é Rubens Mario Faro Pompeu, que foi secretário-geral da CBCa entre 2008 e 2012. Mais próxima ainda da confederação é a sede da academia, que fica no sétimo andar do edifício curitibano em que a confederação ocupa o sexto. É via Abracan que a modalidade já obteve ao menos R$ 29,5 milhões do BNDES, considerados só os patrocínios listados no site oficial do banco.

A Abracan foi criada, em janeiro de 2010, dois anos antes de o BNDES firmar o primeiro acordo de patrocínio com a modalidade. E seu protagonismo ocorre curiosamente um ano depois de a CBCa fechar um convênio cujos objetivos foram notavelmente modificados. Com R$ 2,1 milhões repassados pelo Ministério do Esporte, seriam aparelhados três centros de treinamento — um em Caxias do Sul (RS), outro no Rio de Janeiro e mais um em São Bernardo do Campo (SP). O convênio foi pago, mas os CTs não foram implementados. A confederação decidiu transformar três centros em apenas um, na mesma São Paulo de seus malogrados bingos.
— No decorrer do convênio, os equipamentos foram concentrados neste local. Firmamos um convênio com o Yacht Clube Paulista, nos dando melhores condições — explicou o presidente da CBCa, João Tomasini.

Porém, uma análise feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU) apontou que R$ 503 mil dos R$ 2,1 milhões, pagos pela União, foram imediatamente transferidos para dois credores de dívidas tributárias — o que, segundo o órgão, impediria a concretização de todos os itens conveniados.
Tomasini reconhece que, dos R$ 503 mil, ainda não devolveu R$ 153 mil, bloqueados pela prefeitura de São Paulo, em medida judicial.
— Estamos pagando por uma dívida que não é nossa. É um absurdo da legislação que, infelizmente, o esporte brasileiro sofreu e ainda sofre. As entidades foram estimuladas a entrar no bingo. Estamos resolvendo isso.
O Ministério do Esporte informou que consentiu com a troca de objeto. Mas a reportagem solicitou na última quarta-feira cópia do documento que autorizou a mudança, que não foi apresentado até o fechamento desta edição. O repasse está no escopo de uma investigação do próprio governo federal sobre ações de capacitação de atletas do alto rendimento, iniciada em 2014.

fonte: O Globo

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